Fui convocada para fazer parte, do comité de organização da despedida de solteira de uma amiga. Entre o trabalho, a maternidade e o pouco tempo que tinha para estar comigo, restou-me abdicar desse meu tempo, para me dedicar à dita organização da despedida de solteira.
Não sou dada a grandes grupos de amigas, por isso, a maioria das raparigas que compunham o comité eram-me praticamente desconhecidas, tornando a coisa complicada para mim. Poderia ter dito que não, mas as poucas amigas que tenho são preciosas e valem o esforço. Por norma sou uma amiga ausente, não por não querer saber, mas por tantos outros motivos que não vêm ao caso.
Na primeira reunião do comité, entrei muda e saí calada. Os temas foram diversos, desde bandoletes com pilas, ramos de flores com pilas, vestidos iguais e saída para as docas de Alcântara, nada mais havia a dizer. A resignação perante a situação caricata com que me deparei pareceu-me a melhor opção.
Opção essa, que deixou de ser opção nas seguintes reuniões, a coisa foi de tal ordem má, que tive que mostrar a minha indignação face a tanto mau gosto. Se venci, não, mas não saí vencida... As bandoletes e os ramos com pilas foram à vida, os vestidos tiveram que ser iguais (vestidos vermelhos, justos, ligeiramente brilhantes e com sapatos pretos de salto alto) e o local de saída à noite manteve-se inalterado.
Ao fim de um mês de preparativos (foi uma epopeia conseguir que dez mulheres se entendessem), chegou finalmente o grande dia. Agradeci a todos os santinhos o facto de a noiva ter tido a mesma indumentária que o comité. Apenas diferiu num pormenor, o vestido era preto e os sapatos eram vermelhos (penso que ela deve ter ficado feliz por não haver referência a pilas de forma taxativa).
Fomos jantar a um dos restaurantes das docas de Alcântara, não se comeu mal, mas houve quem nos quisesse fazer de prato principal. Uma coisa é de louvar, não houve nenhuma tentativa de dourar a pílula, isto é, quem nos tentou fazer de prato principal, não o fez com falinhas mansas. Se alguma de nós tivesse caído no prato deles, não poderia dizer que estava convencida que tinha encontrado o amor para a vida.
Mas o melhor ainda estava para vir, rumámos a uma das discotecas do momento. Bebemos uns copos, vimos um gajos e umas gajas giras, todos a tentar ser os mais giros da discoteca, mas não ficámos por ali. Decidiu-se que uma boa noite de despedida de solteira, não poderia passar sem o belo do striptease e lá fomos nós para aquela que é a casa de referência da coisa.
Nunca vi tanta mulher junta e tanto histerismo à mistura. Parecia uma arena, eles a fazer o seu espectáculo e as feras do lado de fora a tentar abocanhá-los. Nada fácil para aqueles homens, cheios de músculos, conseguidos à base de ginásio e hormonas de crescimento. Todavia, não me pareciam desagradados, fizeram-me lembrar os gladiadores dos tempos romanos. Diversas mulheres foram levadas para o centro da arena, umas não tocaram em nada de tão envergonhadas que estavam, outras lambuzaram-se por onde puderam e outras houve, que bateram de tal forma no senhor que este chegou a olhar para a fera com um ar bastante desagradado.
A minha amiga teve direito a um privado, com o stripper com menos músculos conseguidos à base de hormonas de crescimento, ela adorou. Foi talvez a experiência que mais adrenalina lhe causou na vida. Foi bom vê-la naquele estado, as pernas tremiam e a boca estava seca, pergunto-me se o casamento em questão a fará feliz, mas quem sou eu para questionar as escolhas de cada um, afinal as minhas escolhas têm sido muito pouco certeiras.
Quanto ao restante comité, foi um regalo para a vista, teria sido deveras hilariante vê-las à volta da arena, a tentar abocanhar os gladiadores com bandoletes com pilas e ramos de flores com pilas na mão. Na verdade, todas elas precisavam de extravasar, sem grande vida social, resta-lhes os convívios com os colegas de trabalho e as despedidas de solteira das poucas amigas que ainda estão por casar. A vida a dois é vivida entre quatro paredes, em que um vai para a cama mais cedo e o outro acaba por adormecer no sofá e isto é apenas a ponta do "iceberg".
Por variadíssimas vezes, tivemos de desmarcar as nossas reuniões, devido aos seus inúmeros compromissos familiares, bem como, devido aos convívios com os colegas de trabalho... Era-me desconhecido que houvesse tanta gente a chegar à quinta, sexta e sábado desejosos por ir sair com os colegas de trabalho com quem passam a maior parte do tempo...
Será isto sinal de bom ambiente no trabalho? de amizades de qualidade? de não querer ir para casa? de não ter mais nada que fazer? Eu sei lá, sei o que for, que sejam felizes...
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