O DIÁRIO DE ANA TOMAZ

O DIÁRIO DE ANA TOMAZ

Cheguei eram 23 horas, tinha tido um dia preenchido e estava cansada, mas por muito cansada que estivesse, tinha de ir. As portas abriram-se e encontrei-me no corredor onde tudo começou. Majestoso, intimidante e familiar. Ao longo do corredor encontravam-se diversas portas, esbocei um sorriso e lembrei-me da apreensão e curiosidade de outrora, sem saber bem ao que ia e por onde deveria ir. Hoje a sensação era outra, o medo do desconhecido havia passado, mas a adrenalina não.

 

Entrei na sala, no centro pendia uma mulher de cabelo loiro, atada a uma corda suspensa no tecto. Estava na horizontal, com as pernas abertas e a cabeça presa de forma a ter contacto visual com o marido. Ele estava sentado num sofá, a deliciar-se com o prazer que a mulher estava a ter com um outro homem. Passei por eles, ninguém deu por mim, comportavam-se como se mais ninguém estivesse na sala e todos os convidados faziam com que assim fosse.

 

As regras estão estipuladas, sem haver necessidade de falar delas. Trata-se de um saber estar inato, ninguém comenta, ninguém condena, somos livres de dar azo à nossa imaginação e colocá-la em prática. Ninguém faz nada que não queira e as expectativas sobre os demais não existem e se existirem, ficam no segredo dos Deuses. Neste nosso mundo, somos todos iguais ou pelo menos comportamos-nos como tal.

 

Encontrei caras conhecidas que cumprimentei com um leve sorriso. Não me costumo demorar com quem já conheço, não neste mundo, existem tantas outras pessoas para conhecer e experimentar. Posso parecer um pouco fria, mas os meus amigos sei bem quem são e são muito poucos. Relativamente ao resto da humanidade, pouca fé tenho, por isso, vou experimentando pessoas e neste meu mundo aplico esta máxima na sua plenitude.

 

Esta noite em particular era diferente. Estava à procura de alguém e encontrei-o encostado a um dos bares. Lembrei-me de quando o vi pela primeira vez, senti o meu estômago contrair-se e uma vez mais sorri. Era bom saber que, ainda havia quem me fizesse sentir algo parecido com paixão. Foi ele que me apresentou a este mundo. Foi ele que tomou conta de mim, quando eu não o consegui fazer. O meu recomeço, começou com ele.

 

Falava de forma descontraída com um outro homem, contemplei-os e ele viu-me. Trocámos um olhar cúmplice e dei por mim a dirigir-me para o bar oposto. Sabia que me observava e ele sabia que eu tinha entrado no jogo. Pedi a minha bebida e deixei-me estar a observar a sala. Pouco tempo depois, uma rapariga de vinte e poucos anos veio ter comigo. Estava desejosa de novas aventuras, disponível para quase tudo e ligeiramente embriagada. Encetamos uma conversa desprovida de grande conteúdo, mas nenhuma de nós estava ali para conversar.  

 

Dei-lhe a mão e levei-a para um corredor lateral. Sem grandes demoras, agarrei os seus cabelos longos fazendo com que ela entreabrisse a boca, beijei-a como se fosse a única coisa que importasse, beijei-a como se a química entre nós fosse imensa, beijei-a de forma a não passarmos despercebidas aos olhos daquele que o acompanhava. Fiz dela minha cúmplice e desafiei-a a deixar dois homens loucos. Dei-lhe poder e ela fez tudo como previsto, como se de uma marionete se tratasse.

 

O homem poderoso, por quem o meu amigo se fez acompanhar, mordeu o isco. Convidou-nos a juntarmos-nos a eles e assim foi, o rastilho pegou e a nossa "dança" começou. Sem demoras apresentou-se e fez saber quem era, a rapariga mostrou-se entusiasmada, mas não em demasia, admirei-a por isso. Ele queria usar (uma vez mais) o seu poder para conseguir o que desejava e ela queria saber o quão poderosa era… Um jogo de poder, um jogo orquestrado por aqueles que se colocaram em segundo plano, aqueles que à primeira vista não detinham qualquer poder.

 

Mantivemos uma conversa agradável a quatro, mas ninguém estava ali para conversar. Eles queriam sexo e nós queríamos que eles se divertissem. Dirigimos-nos para uma zona mais intima e sem demoras as nossas companhias envolveram-se de forma desenfreada. Sedentos um do outro, como se de uma paixão avassaladora se tratasse. Ela colocou-se em cima dele, desapertou-lhe as calças e agarrou o seu sexo de forma vigorosa. Afastou as suas cuecas e colocou-o dentro dela, gemeu de prazer e começou a cavalgar sobre ele, fazendo movimentos de quem já viu uns quantos filmes pornográficos.

Enquanto cavalgava, pediu que ele lhe batesse e assim foi, ela rejubilou com o misto de dor e prazer e teve o seu primeiro orgasmo. Rapidamente, ele colocou-a de quatro e penetrou-a por trás, ela gemeu de prazer e quanto mais ele investia sobre ela mais ela gemia, acabando por atingir novamente o orgasmo. Ela atingiu o orgasmo mais umas duas vezes, quando finalmente foi a vez dele. Claramente que se havia prevenido, nada como um comprimido milagroso para que o homem consiga uma boa performance.

 

Abandonámos a festa juntos, ele agarrou na minha mão e num passo acelerado levou-me dali para fora. Ao chegarmos à rua, olhou para mim e abraçou-me com muita força. Estava triste, muito triste. Perguntei-lhe o que se passava e ele apenas disse "Perdoa-me, mas vais ter que desaparecer novamente". Afastei-me dele e desapareci para nunca mais voltar.

Posted on 2017-01-10 by Ana Tomaz ESTÓRIAS 0 3506

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