Swing: há cada vez mais adeptos da troca de parceiro

Swing: há cada vez mais adeptos da troca de parceiro

O número de praticantes de swing está a aumentar em Portugal, garantem os administradores de sites da especialidade e proprietários de bares onde decorrem encontros e festas temáticas. Um estudo da Universidade Portucalense vem agora concluir que estas trocas de casais de cariz sexual são, afinal, salutares para o casamento: os casais swingers são mais felizes na relação, estão mais satisfeitos sexualmente e têm mais intimidade física e psicológica do que os casais com exclusividade afetiva.
“Adoro ver o meu marido com outra mulher”, diz Catarina. “Dá-me prazer. Mas não gostaria de saber que ele andava a trocar mensagens com outra, porque já não saberia o que está a acontecer. Não tenho ciúmes do que vejo, tenho ciúmes do que não controlo.” O swing surgiu na vida deste casal há cerca de três anos, quando já contavam vinte de casamento. Na sequência de uma visita a uma feira erótica, começaram a falar do assunto.
“Sempre fomos sexualmente muito ativos”, diz o marido, Manuel. “O swing é um complemento. Elevou o nível da nossa relação porque exige confiança total.” O swing deixou de ser uma prática secreta de um número restrito de casais como Catarina e Manuel, de 42 anos, em casas alugadas em locais recônditos. Existem 25 clubes ativos em Portugal e a maior comunidade virtual de swingers tem cerca de dez mil membros ativos e quase o dobro de candidatos em processo de validação.
Embora continue a ser assumido por uma minoria face à monogamia dominante, o swing apresenta-se hoje como um universo cada vez mais vasto e heterogéneo, abrangendo uma leque diversificado de práticas, com códigos e regras próprios. Como expressão de uma conjugalidade liberal, hedonista, ainda envolta em sigilo, tem suscitado também interesse crescente por parte da investigação científica.

A felicidade no casamento passa pelos outros
Ana Durão concluiu em 2015 um estudo sobre o tema. A investigadora da Universidade Portucalense, no Porto, pretendia compreender o estilo de vida swinger e avaliar até que ponto os casais envolvidos neste tipo de relação aberta são ou não mais felizes do que os que pautam o relacionamento pela monogamia. As conclusões foram claras: os casais swingers revelam índices mais elevados de felicidade na relação, de satisfação sexual, bem como maior intimidade física e psicológica do que os casais com exclusividade afetiva e sexual.
Ana começou por fazer pesquisas online para depois entrar no mundo dos clubes de swing. Das entrevistas e dos inquéritos que realizou a 51 casais (39 convencionais e 12 swingers), chegou a conclusões que surpreendem quem não estuda estas questões, mas estão em linha com outras pesquisas sobre modelos alternativos de conjugalidade.
Medir sentimentos não é tarefa fácil, mas a psicologia socorre-se de alguns instrumentos para caracterizar algumas dimensões específicas ou conceitos mais abrangentes. No caso desta investigação, utilizou-se um inquérito (a Escala Triangular do Amor de Sternberg), que avalia o amor em três dimensões: intimidade psicológica (partilha de interesses, gostos, estilo de vida), erotismo (ligação passional, atração física, prazer sexual) e compromisso (projeto de vida conjunto, vinculação conjugal ao longo do tempo). Seria de esperar que os casais swingers apresentassem pontuações mais elevadas na vertente erótica, mas os resultados demonstram que evidenciam também maior partilha emocional e um sentido mais profundo de compromisso. “Ou seja, globalmente estão mais satisfeitos, tanto a nível emocional como sexual, do que quem está numa relação definida pelos modelos tradicionais de fidelidade”, diz Ana Durão.
Esta conclusão vai ao encontro de outros estudos. Uma investigação da Universidade de Bellarmine, nos EUA, que envolveu mais de mil swingers norte-americanos, concluiu que os casais neste tipo de relação apresentam níveis mais elevados de satisfação no casamento e na vida em geral.
“A experiência, que poderia ser altamente desestabilizadora, parece ter efeitos muito positivos na relação”, diz Paulo Jesus, orientador do mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde na Portucalense. Mas, independentemente destes resultados, não se conclui que o swing seja a solução para manter uma relação feliz ou curar um casamento insatisfatório. “O mais importante é a comunicação, incluindo sobre a relação e o desejo”, diz o professor de Psicologia. O tema ainda é tabu, mas crucial, considerando o desinvestimento emocional e erótico que carateriza, de uma forma geral, as relações amorosas ao fim de alguns anos. Nessa fase de erosão de sentimentos, em que os cônjuges se tornam mais companheiros do que amantes, instala-se a frustração que, não raras vezes, impulsiona a procura de relações extraconjugais.
Paulo Jesus cita estudos europeus que referem que, aos 40 anos, quarenta por cento dos homens e vinte por cento das mulheres já traíram os respetivos parceiros. “Os casais swing transformaram o que é uma experiência individual, em que um dos elementos procura novos estímulos eróticos, numa estratégia de casal. O swing, por si só, não é a resposta para superar as crises conjugais, mas exige um acréscimo de comunicação que é positivo.” No swing, as regras são claras: sexo puro e duro, sem floreados emocionais, consentido e mútuo. A troca direta entre casais – na versão soft (partilha do espaço e de carícias, sem coito) e na hard (envolvimento sexual total) – é a expressão clássica do swing, mas não a única.
Pode ocorrer com outra pessoa (um single) desenhando uma ménage à trois, em grupo, ao estilo orgia romana, e pode envolver apenas um dos elementos do casal.
Os defensores de uma visão mais purista do swing consideram que este, na essência, deve ser praticado em casal, mas com a disseminação de clubes, festas e ambientes de expressão sexual desinibida, o universo swing passou a incluir diversas expressões de sexo liberal.

Dar o primeiro passo para trocar de parceiro sexual
Como se ultrapassam os limites da monogamia normativa para uma prática ainda escondida, arriscada e socialmente censurada? Como se passa de um lado ao outro? A internet é, quase invariavelmente, a porta de entrada. Nos últimos anos, proliferaram sites, fóruns e grupos onde os swingers podem dar a conhecer-se e encontrar pessoas com interesses idênticos. Tudo começa com a criação de um perfil e de um nick name, uma identidade secreta, partilhada apenas pelos iniciados. Simplex foi o nick adotado por Filipe e Sandra, de 45 anos, casados há 19 anos, com uma filha adolescente. Foi ele quem há cerca de oito anos começou a procurar vias alternativas para satisfazer as fantasias comuns. “Foi mais por curiosidade e não tanto pela rotina. Queríamos ter experiências novas”, diz Filipe. Quando falou de swing à mulher, a reação “não foi negativa”, mas de alguma cautela. “Nunca tal me tinha passado pela cabeça. Tinha alguns receios.
Não sabia se conseguiria estar de forma íntima com outro casal, que sentido faria estar a partilhar o meu marido, que sentimentos iria ter. E, sim, tive receio de que pudesse prejudicar a minha relação.” Andaram em conversações cerca de um ano. “Foi tudo muito conversado. Cada passo bem ponderado. A comunicação, para nós, sempre foi muito importante”, explica Filipe. Sandra recorda a primeira vez que o envolvimento com outro casal foi completo. “Senti-me muito bem. Para mim, a questão emocional era a mais relevante. Tinha medo de ter ciúmes e não tive.” Para este casal definir algumas regras tornou-se crucial. A primeira é que estão sempre juntos. “Muitos casais têm experiências sexuais em separado, mas Filipe defende uma visão purista do swing: Estamos sempre os dois porque o meu prazer advém também de vê-la a ter prazer com outro.” Outras regras são o uso obrigatório do preservativo e a rejeição completa de qualquer forma de violência.
“O swing tornou a nossa relação mais sólida. Nada a esconder. E não há confusão de sentimentos – só se o casamento não for estável.” Depois de oito anos de swing, um número indeterminado de parceiros e vivências, o balanço de Filipe é positivo. Sandra concorda. “Este é o nosso segredo. Fora do mundo swing ninguém sabe. Este lado oculto torna as coisas mais interessantes.” A maior comunidade online swinger em Portugal é o SwPt, com cerca de cinco mil membros ativos: a grande maioria (92%) são casais heterossexuais, mas também casais do mesmo sexo, singles, transexuais e travestis, o que significa que esta rede social agrega quase dez mil pessoas. E há mais 17 mil candidatos em processo de validação, de acordo com os responsáveis pelo site. Cerca de metade dos inscritos residem na zona de Lisboa e situam-se na faixa etária entre os 30 e os 40 anos. Os estudos internacionais apontam para um perfil socioeconómico acima da média, embora com tendência para democratização. Desde que foi fundado, em 2009, o SwPt conta com cerca de 59 mil registos.
Não se pode extrapolar estes números para estimar a dimensão do swing em Portugal. Inegável é que este comportamento culturalmente contra-hegemónico está a crescer. Existem 25 clubes a funcionar em todo o país, com predominância nas regiões de Lisboa (dez) e Porto (seis) – só em Valongo existem quatro. O acesso a estes espaços é restrito. As páginas na internet nunca disponibilizam a morada. É preciso contactar o clube para figurar na guest list ou ser convidado por clientes regulares. Alguns só permitem a entrada a casais e os mais rigorosos exigem identificação à entrada. Os singles femininos são permitidos nalguns espaços, principalmente se forem acompanhar um casal, mas os masculinos nem sempre são bem-vindos. E estão sujeitos a regras: não podem contactar diretamente os casais, devem aguardar que o convite lhes seja dirigido.

 

Por Helena Norte /Notícias Magazine, Fotografia Pedro Correia/Global Imagens
Posted on 2016-01-05 MUNDO LIBERAL 0 5793

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